segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Crônica

   A crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. 
   O fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições. Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém. Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia a dia.
   A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam.
   Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.

A IMPESSOALIZAÇÃO DO TEXTO

  Um texto é pessoal e subjetivo quando pronomes pessoais e possessivos, verbos conjugados em primeira e em terceira pessoa, contribuem para que o diálogo se estabeleça entre autor e leitor de forma explícita, evidente.
   Nem sempre temos interesse em deixar explícitas a nossa voz e as diversas vozes que são trazidas para compor um texto. Muitas vezes queremos adotar uma posição impessoal, aparentemente neutra, atenuando a dialogia e ocultando o agente das ações.
   Gramaticalmente, há muitas maneiras de conseguir esse objetivo. Vejamos algumas delas. 


1.Generalizar o sujeito, colocando-o no plural. Uma forma elegante de se distanciar relativamente da subjetividade é pluralizar o agente. O uso da primeira e da terceira pessoa do plural é a estratégia recomendada quando a intenção é atenuar a subjetividade da primeira pessoa, sem adotar a neutralidade absoluta. Frases como "Procuramos demonstrar...", "Os pesquisadores reconhecem...", "Nossas conclusões...", são menos subjetivas que "Procurei demonstrar...", "Reconheço...", "Minhas conclusões...". 


2.Ocultar o agente. A expressão "é preciso" serve a esse propósito de neutralidade. Assim, também expressões como: é necessário, é urgente, é imprescindível, são utilizadas para ocultar o agente. Quem precisa? Quem necessita? Para quem é urgente? Para quem é imprescindível? Não podemos definir com clareza. Torna-se uma realidade geral, universal, neutra, objetiva. Os textos dissertativos, informativos, expositivos e científicos apresentam, muitas vezes, essa característica de ocultar o agente. Tudo é dito como se fosse uma realidade apresentada sem intermediários. 


3. Colocar um agente inanimado. Uma outra maneira de impessoalizar o texto é colocar como agente um ser inanimado, um fenômeno, uma instituição ou uma organização. Quando escrevo frases como "O Ministério decidiu...", "A diretoria ordenou...", "O governo protelou...", a responsabilidade em relação à ação está diluída e não se pode identificar claramente de onde ou de quem emanou a iniciativa. É um recurso muito utilizado na administração pública e na política.


4. Uso gramatical do sujeito indeterminado. Como a própria nomenclatura indica, não se pode determinar com precisão quem realizou uma ação quando usamos a estrutura de sujeito indeterminado. Ela é muito útil quando queremos inserir uma informação da qual não sabemos a procedência exata: Vive-se propagando a necessidade de preservar a Amazônia. Acreditava-se no empreendimento de turismo sustentável para aquela área. Fala-se muito em sustentabilidade.


5. O uso da voz passiva. Enquanto na voz ativa temos um agente explícito, na voz passiva esse agente pode estar oculto. Assim, usar a passiva sem esclarecer seu agente é um recurso gramatical para impessoalizar a informação. Veja o exemplo: Novas descobertas foram realizadas em centros de estudo e laboratórios ao redor do mundo. Está sendo revelado ao mundo que o cérebro é um órgão mais fascinante, complexo e poderoso do que antes se imaginava.Quem realizou? Quem está revelando? A voz passiva oculta o agente. Como vimos, há diversas maneiras de tornar o texto impessoal, e todas elas utilizam recursos e possibilidades presentes no sistema gramatical da língua.

Lucília Helena do Carmo Garcez é ex-professora da UnB, doutora em linguística e autora do livro Técnica de Redação – o que é preciso saber para bem escrever, Editora Martins Fontes.



obs.:  Em geral, textos acadêmicos devem ser impessoais.